Lanternas Vermelhas
大红灯笼高高挂 – Dà Hóng Dēnglong Gāogāo Guà – Lanternas Vermelhas (1991)

大红灯笼高高挂

Lanternas Vermelhas

de Zhang Yimou
Por
Wu Ming
em
28/3/2022

Lanternas Vermelhas é o terceiro longa de Zhang Yimou e possivelmente o mais icônico de seus trabalhos. Baseado no romance "Esposas e Concubinas" de Su Tong, a história se passa na era dos Senhores da Guerra – caudilhos que governaram o país entre 1916 e 1928 – o conturbado momento de instabilidade política após o fim do império e a instauração da república. O drama apresenta um recorte da sociedade patriarcal chinesa do início do século XX contado através da realidade do concubinato, uma situação de proto-escravidão na qual mulheres eram submetidas a um regime de servidão forçada (e sempre de natureza sexual, mas não ficando apenas restrito a isto) por homens ricos e poderosos.

Songlian (Gong Li), uma jovem universitária de 19 anos, é vendida por sua família ao influente senhor feudal Chen Zuoquian, que já possui três outras concubinas. Ao chegar no palácio em que irá viver, ela é conduzida a seu aposento e se depara com a ritualística da casa: banho, massagem e preparo para a noite com o mestre. Lanternas são dispostas dentro e no entorno do aposento da concubina escolhida por Chen para passar a noite. A jovem logo percebe a dinâmica de rivalidade entre as mulheres do palácio – todas competindo pela atenção do mestre e as regalias decorrentes de sua escolha como companheiras de cama. Uma obrigação que Songlian inicialmente repudia, mas uma vez imersa neste universo, entende que este é o jogo a ser jogado.

Envoltas numa teia de intrigas e poder, até a criada de Songlian a trata com insolência e hostilidade. Entre as concubinas, cada uma apresenta uma faceta pública e outra privada. À medida que Songlian mergulha na aparente harmonia da casa, percebe que nada é o que parece neste universo de aparência, fofoca e jogos de poder.

A estética de Lanternas Vermelhas é deslumbrante. O uso da cor e a composição se complementam com o trabalho de câmera. A aproximação em foco se dá de maneira quase fetichista: nenhuma intimidade será garantida, sendo o enquadramento sempre focado nas mulheres da casa. A personagem do senhor Chen nunca é plenamente mostrada. As cenas aéreas filmadas de cima do palácio suportam a ideia de enclausuramento. As gigantescas muralhas que ali guardam as concubinas contribuem ainda mais para a sensação de opressão e desilusão, e eliminam qualquer perspectiva de uma vida externa longe das suas obrigações.

Zhang Yimou – que nasceu em 1950, um ano após a constituição da República Popular da China – faz parte do seminal grupo de cineastas formalmente treinados (a quinta geração) e que tiveram a inédita oportunidade de, pela primeira vez desde a Revolução Cultural, explorar em filme os diversos temas sociais que vieram tomando parte da história da China desde a queda do império.

Segundo o diretor, sua preferência por retratar temas históricos se dá pelo natural distanciamento de tempo necessário para se formar uma visão mais clara das narrativas. "Aquilo que está muito próximo de nós é facilmente ofuscado, é necessário tempo para digerir uma história e se formar algum entendimento", confessa Zhang em entrevista à emissora chinesa CGTN, na divulgação do filme "Voltando para Casa", de 2014.