Um toque de pecado
天注定 – Tiān zhùdìng – Um Toque de Pecado (2013)

天注定

Um toque de pecado

de Jia Zhangke
Por
Daniel Flores
em
7/6/2021

Podemos considerar este, que é o oitavo longa-metragem de Jia Zhangke, como uma espécie de divisor de águas na obra do diretor integrante da sexta geração do cinema chinês. Já nos primeiros 90 segundos do filme, somos expostos a mais ação do que em boa parte de seus trabalhos anteriores.

Trata-se de uma antologia de quatro histórias baseadas em casos reais, os quais foram adaptados de relatos coletados no aplicativo Weibo (uma espécie de mix entre Instagram e Facebook). As histórias ilustram situações vividas por pessoas que, quando pressionadas ao limite, engajam em atos de violência extrema numa espécie de catarse incontrolável.

Jia afirma que se inspirou no gênero de ação Wuxia para a construção de parte da narrativa. Uma quebra total de paradigma com o estilo de seus primeiros filmes, de viés mais documental, com takes longos, arrastados e, no geral, sem grandes incursões no aprofundamento das personagens.

O que percebemos aqui é uma verdadeira taxonomia da violência (não se limitando apenas àquela de natureza física): bullying, assédio, corrupção, adultério. Nada parece escapar do olhar carregado de Jia, considerado hoje o mais astuto e honesto observador de um país que vem experimentando, nestes últimos 50 anos, as mais profundas transformações sociais de sua história.

Alguns fãs de filmes anteriores do diretor (como o belo porém vagaroso Plataforma, de 2000), o acusaram de recorrer a técnicas mais prosaicas de violência explícita, recurso comumente utilizado por diretores como Quentin Tarantino e Martin Scorcese. Mas ainda que esteticamente esta se distinga de suas primeiras obras, preserva contudo, aquele que é o tema recorrente de seu cinema: o ser humano alienado diante da inexorabilidade do progresso (e que progresso seria este?), na busca por uma identidade, frente uma onda gigantesca de mudanças tecnológicas e socioculturais impostas na sociedade globalizada. E sendo assim, percebemos aqui semelhança maior com alguns dos melhores trabalhos de denúncia e crítica social de, por exemplo, Alejandro González Iñárritu.