Literatura Contemporânea —  Os livros mais vendidos na China em 2023 (e o porquê)

Literatura Contemporânea — Os livros mais vendidos na China em 2023 (e o porquê)

Por
Calebe Guerra
em
20/7/2023

Vendo o quadro de livros mais vendidos da China no começo de 2023, falamos hoje sobre alguns livros que ocupam os primeiros lugares e analisamos alguns dos motivos que fazem com que alguns títulos voltem a ocupar os primeiros lugares do ranking mesmo anos depois de terem sido lançados pela primeira vez.

No geral, é fácil observar que as prateleiras de livrarias chinesas seguem a mesma regra do Ocidente: quando um livro ganha sua versão em motion picture nas telas de cinema ou de alguma plataforma de streaming, a tendência é que ele volte a liderar no quadro de livros mais vendidos do ano. 

O escritor Liu Cixin

As notícias recentes de adaptações da famosa trilogia O Problema dos Três Corpos, fez os (já então) best-sellers escritos por Liu Cixin voltarem todos ao topo de livros mais vendidos no país no começo do ano. Se você gosta e acompanha o mundo literário chinês, esses títulos não soam estranhos. Desde sua primeira publicação em 2008 pela Editora de Chongqing, a ficção científica O Problema dos Três Corpos fez a China ganhar notoriedade mundo afora, tornando Liu um dos escritores chineses mais famosos da atualidade, constantemente ficando à frente de Mo Yan, chinês que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2012.

Mas nem só de adaptações televisivas vivem essas “ressurreições” de livros que impulsionam o mercado editorial anualmente. 

Edição brasileira de Viver, lançada pela Cia das Letras

Ainda analisando o quadro de livros mais vendidos na China no começo de 2023, o quarto no ranking (chegando logo após os três livros da trilogia de Liu) é o Viver, escrito por Yu Hua e publicado pela primeira vez em 1992. Contando a história da Revolução Cultural de Mao através da perspectiva de um jovem andarilho que perambula pelo país imerso em conflitos ideológicos, a sua adaptação às telas veio em 1994, cedo demais para gerar interesse no público moderno, e o motivo que o coloca em quarto lugar é uma reedição bem recente da obra. 

Em 2021, no auge da pandemia, a Editora Beijing October Art and Literature investiu em uma nova edição da história, reacendendo no imaginário chinês a importância que o livro de Yu teve para o gênero de ficção realista no país. O livro, vencedor do prêmio Grinzane Cavour de 1998, também fez com que a uma nova onda de escritores chineses fosse reconhecida no ocidente. Desde então, Viver tem feito constantes aparições nas listas anuais de livros mais vendidos.

Como vemos, adaptações para o cinema e relançamentos explicam alguns dos livros que ocupam os dez primeiros lugares no ranking de livros mais vendidos, mas nem sempre são a única regra. Entre os dez primeiros livros mais vendidos de 2023, O Sonho da Câmara Vermelha ocupa o oitavo lugar, com uma edição de 1998. 

Longe de ser literatura moderna ou contemporânea, O Sonho da Câmara Vermelha foi escrito no século 18 por Cao Xueqin, e sua adaptação mais bem sucedida é uma novela lançada em 1987, com 38 episódios. Nada explica a volta recente do livro no quadro dos mais vendidos na China, a não ser o próprio sucesso atemporal da obra e a genialidade da história, que continua intrigando estudiosos e amantes dos livros por séculos não só na China e especialmente na Ásia, mas também no mundo todo. 

Um alento (e esperança) é ver as novidades! 

Livros recém-lançados pela primeira vez também aparecem no quadro de livros mais vendidos no começo de 2023. O mais recente deles, ocupando o quinto lugar, é do promissor escritor Ma Boyong, originário da Mongólia Interior, província ao norte da China. 

Lychees of Chang’an (ainda sem versão em português) publicado em 2022, ultrapassa títulos mais antigos que estão sendo relançados, firmando uma era onde novos trabalhos não são deixados para trás ou esquecidos quando o assunto é prestigiar o novo. Ma Boyong carrega uma grande expectativa do mundo literário chinês por escrever histórias e romances que se passam em períodos de dinastias chinesas antigas, recontando, dessa forma, a história do país e a cultura da época. 

Esse estilo literário que mistura ficção com história (os famosos romances de época) parece ser uma tendência de ouro para os próximos anos, já que Boyong não é o único do estilo que encontramos por aqui.

Por último, entre os livros mais vendidos de 2023, encontramos em décimo lugar o clássico 500 Anos de Solidão de Gabriel García Márquez, traduzido por Fan Ye. A versão em questão é de 2017, em comemoração aos 50 anos da obra. 

E esse não é o único livro de autoria estrangeira que entra no ranking de mais vendidos da China. O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder, Fundação de Isaac Asimov e Goodbye Eri de Tatsuki Fujimoto são outros títulos estrangeiros que ocupam posições entre os trinta primeiros livros do quadro.