Garrafas de Rapé 鼻烟壶 se tornaram um item de luxo na Dinastia Qing 清朝. No livro Collector 's Book of Snuff Bottles, um dos maiores colecionadores e especialistas, Bob Stevens, diz que elas “são a maior expressão do realismo em miniatura”. Mas o que são garrafas de rapé e como elas se tornaram símbolo da beleza e primazia artística chinesas? A história começa na Europa.
Não demorou muito para o tabaco, após ser descoberto pelos europeus na ilha de Cuba, se popularizar no continente europeu e se tornar um importante produto comercializado e exportado por eles. A China, principalmente o porto de Hong Kong, sendo uma das principais entradas dos europeus na Ásia, começou a receber esse novo e lucrativo bem de consumo.
O problema foi que, desde cedo, fumar o tabaco se tornou ilegal em todo o império chinês. A opção, portanto, dada aos que queriam vender e aceita pelos que queriam comprar foi o Rapé.
A palavra Rapé vem do francês “râper”, que significa “raspar”. É levemente contra intuitivo para brasileiros do século XXI imaginar o tabaco sendo triturado até virar um pó que seja “inalável”, mas é exatamente isso que ele é: rapé é o tabaco em pó que serve para ser cheirado.
O processo químico é simples. As folhas de tabaco são moídas, trituradas e torradas. O pó do tabaco, apesar de já ter sido proibido por um Papa sob punição de excomunhão, foi bem aceito na China, pois os chineses acreditavam que se tratava também de um remédio que curava gripe, dores de cabeça e até problemas estomacais.
Com um grande mercado agora em terras chinesas, as caixinhas usadas pelos europeus para guardarem o pó do tabaco foram substituídas por garrafas de vidro, dando início a um mercado paralelo e ainda mais lucrativo: o das garrafas de rapé.
O tamanho das garrafas de rapé variava, mas geralmente era pequeno o suficiente para caber na palma da mão, facilitando para o usuário. Embora o material mais usado seja o vidro, o apelo artístico que essas garrafas tinham levou os chineses a experimentarem com materiais diversos para a produção dos itens. Metal, porcelana, jade, chifres de rinoceronte, madeira, marfim, cascas de coco, cornalina, quartzo e vários outros começaram a ser usados na fabricação das garrafas.
Uma das características mais marcantes do objeto é uma "pazinha" adjunta a tampa, usada para tirar o pó e posicioná-lo no dedo ou no dorso da mão.
As garrafas de rapé começaram a ser decoradas com pinturas e esculturas que, dependendo da técnica artística e do material usado, elevavam o preço do item. Os desenhos feitos eram cheios de simbolismos típicos dos chineses. Tudo o que existia no imaginário lírico dos chineses do século 18 começou a fazer parte da estética das garrafas, já que o objeto (juntamente com consumo do rapé) circulava livremente por todas as classes sociais da época. Foi nessa época que se popularizou as pinturas feitas pelo lado de dentro da garrafa usando pincéis finos e técnicas engenhosas.
Garrafas de rapé passaram a ser, portanto, um dos grandes símbolos de elegância, delicadeza e amor pela arte que os chineses têm. Hoje em dia ainda é possível colecionar garrafas antigas, claro, se você tiver muito dinheiro. Um dos trabalhos mais famosos do artista Ding ErZhong 丁二仲 (1865 - 1935) está avaliado em mais de 50,000 dólares.
Mas se você não tem tanto dinheiro assim, é possível encontrar versões modernas e contemporâneas das garrafas de rapé. No blog da Associação Internacional de Garrafas de Rapé Chinesas, você pode conhecer mais sobre o assunto.
Garrafas de rapé continuam sendo ótimos presentes, apesar de se limitarem somente ao uso de apreciação artística, já que não são mais usadas para armazenar o pó do tabaco.
Abaixo uma breve amostra de uma exposição de garrafas de rapé realizada na China.
Você pode encontrar mais fotos exclusivas das garrafas que compõem a coleção de Bob Stevens neste site de leilão.
Crédito: o vídeo da exposição de garrafas de rapé está disponível no site da Xinhua Português.
